domingo, 30 de dezembro de 2012

Sobre o vácuo


No meio que permeia o calor das horas,
Calculo o ventre que faltou ao véu
Em nuances tímidas.
A voz da menina coagula a insônia que me cerca
E cristaliza o fino ócio da minha madrugada.
Antes não restará nada, pois toda essa gentalha
Finge fingir a minha importância.
Santa seja a sagrada ignorância,
Usufruindo do amor sem jamais entendê-lo,
Julgando o infinito forte demais para concebê-lo.
Creio que não vejo em canto algum do mundo inteiro
Salvação para a minha melancolia,
Que se arrasta num suspiro egoísta,
Aprendendo a viver feito um parasita
Num ninho órfão de pai e mãe.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Barata

Cortei, lavei, fervi, temperei, cobri com farinha de rosca, fritei, sequei, banhei ao azeite e servir com arroz branco e um bom vinho do porto. Com o toque certo disfarça-se até os maiores nojos.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Seria incorpórea?



Aí vem a torrente apática,
Vertente plasmática
Daquele lapso de existência.
Usualmente corrompida desde a essência,
Cavalgou em todos os ventres
E chicoteou todas as rainhas.
Descendente dos primatas
- Talvez até dos homeopatas -
Tem uma queda por adolescentes.
E bruta, leva a fome feito névoa,
Que cresce e decresce mais que corpórea,
Perfeita além do verbo que se prende.
Sem ousar uma ínfima interpretação,
Com a luz acesa, São João
Foi pegue sem calção,
Tentando entender onde tinha ido parar a lógica.
E a torrente,
De repente, não mais que de repente,
Virou latente
E foi-se embora.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

À tristeza



Eu espero que a tristeza
Mãe da indecência, podridão e apatia
E superior a qualquer sentimento de ódio ou similar grosseiro
Deite-me em um chão de espinhos aidéticos
Espalhe ratos gordos por entre meus dedos
Tire fotografias nas mais diversas posições
Use-me para as mais diversas perversões
Tranque-me em qualquer um de seus porões
Mas com três condições:
Faça-o com gosto
            Sem cobrança de imposto
                                   Só pare quando eu disser

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Navalha

Ao primeiro fio branco que pousou em minha barba espessa
Espero pasmo a ira de quando olhardes ao espelho
A essência do mal, qual mãe solteira e pai vadio
Virá na primavera em pele de inverno frio
Nascendo Caim, matando o que sobrara do irmão coeso