segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Vai à Merda


Merda
Lama encefálica que me escorre os ouvidos
E molha minh’alma de luxúria sem pudor

Vai à merda

Tenho nojo dessa hipocondria
(hipocrisia)
Que Lambegoza o ânus de um artista
Superego de rapariga
(não moça!)
Com sexo ainda nos dentes
E um cigarro apagado no ventre
Ela transa com uma narina só
Sósia da outra

E se nos arredores me procurar
Vai me achar em ti, sem roupa
Sem rima, sem margarina
Resmungando a minha insignificância
Perante a mais nova ordem mundial
Blá, blá, blá
Blá, blá, blá
Sinceramente?
Vai à merda

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Tão profundo que...

Ousado é
Subjugar o escuro,
                             Mal sabendo que o abismo é apenas
                                                                                       o
                                                                                           p
                                                                                             r
                                                                                              e
                                                                                                l
                                                                                                ú
                                                                                                d
                                                                                                 i
                                                                                                 o
                                                                                                 d
                                                                                                 a
                                                                                                 h
                                                                                                 u
                                                                                                 m
                                                                                                 a
                                                                                                 n
                                                                                                 i
                                                                                                 d
                                                                                                  a
                                                                                                  d
                                                                                                   e.

domingo, 11 de setembro de 2011

Anjo Caído

            Reza a lenda que jamais foi visto o rosto de um anjo por alguém mortal. Sua aparência, de tão bela e estupenda, refletiria a pureza dos céus e todo esse brilho levaria à loucura até a mente mais sã.
            Medo, um anjo bastante querido daquela casta de criaturas, pegou-se rindo desse ditado humano.
            O fato é que o clima permanecia nublado no panteão católico desde que o filho pródigo ruiu-se de toda a pompa e decidiu trilhar o seu próprio destino, como um navegador negador. Seu nome havia virado tabu; de todos o indizível, o único impossível. Seus amigos, seus antigos amigos, entregues à bebida. Seu pai, vaidoso, encontrou um rival à altura. Os anjos agora andavam de cabeça baixa, desconfiados, olhando de lado e sussurrando. A era do luto havia começado na Queda e não tinha previsão para recesso.
            Sentado em uma nuvem, Medo olhava para o tempo negro e gélido vindo lá de baixo e pensava exatamente no que mais lhe era proibido. Estranho seria fazer o contrário.
            Enquanto observava a imensidão branca e indiferente, ele encontrou, resguardado sob um aglomerado de nuvens, algo bastante concreto. Mesmo com toda a sua força angelical, mover tal nuvem foi realmente trabalhoso. Nela, notou-se, deitava todas as lágrimas já choradas, todos os pedidos mais delirantes, todos os dizeres mais esquizofrênicos, todos os pensamentos mais doentes, todas as desilusões, todas as dores mais masoquistas, todos os medos do homem.
            Largou-se a movê-la. Trabalho imenso que, seu grito de dor ecoou na eternidade, sendo assim, durante um certo período humano, chamado de câncer.
           
            Embaixo, acredite, havia apenas nada.

            Desapontado, Medo voltou ao reino dos céus. Por sua tristeza, precisava se esconder. Emoções eram proibidas, óbvio. Se fosse visto naquele estado, seria banido para um lugar onde aquela blasfêmia fosse aceita. O Olimpo, talvez; ou, quem sabe, Valhalla. Não importava. O exílio era o pior dos castigos.
            Escondeu-se à sombra de um relâmpago, alimentando-se do medo e da dor. Chorava alto a cada trovão que ressoava, para poder não ser ouvido.
            Não sabia por que, mas aquilo matou sua eternidade. Mal percebia que ali, aquele vazio, era, dentre todos os vazios existentes, exatamente o vazio que seu pai queria mais esconder. O vazio dos vazios. O vazio que o irmão degenerado – a ovelha negra – havia visto e enlouquecido. O vazio protegido com o medo de milhões de almas mórbidas, incluindo os do próprio pai, de todos os seres, o mais temido e o mais temedor.
            Suas lágrimas foram tantas e tão grandiosas que suas vestes reais incharam, incharam e incharam. Incharam tanto que nem mesmo toda a força que possuía, força essa que ergueu sua ruína, pôde segurar seu corpo. Então, pesado como uma constelação, seguiu o curso da gravidade, caindo enfim, exatamente como seu irmão caiu, e exatamente como todos os seus irmãos estão fadados a cair. Enquanto caía, voltou a rir. Não sabia por que, mas lembrou da lenda do rosto do anjo e da morte que acometia a todos. Enfim, soube o motivo da graça: o ditado era verdadeiro, mas com outro desfecho. Não havia beleza nos anjos. Nem luz, nem divino. Apenas um rosto, limpo, seco, humano.

            Pior do que ver o divino no rosto de um anjo é ver a humanidade refletindo nele.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Beth sem Sapatilha



Beth é uma bailarina
Observe-a rodopiar por entre seus giros
Cada revolução uma encenação, cada passo uma obra de arte
Sua leveza é meta humana
Seu corpo exala delicadeza
Desliza de lá para cá, e de cá para acolá, pendulando pelo aposento escuro como um vagalume reluzente
Era uma estrela, Possuía brilho próprio
Sua respiração era quase inaudível, mesmo no ambiente opaco e sem brilho algum. Sua dança era sonora. Seu olhar, música
Sua alma vencia o silêncio
Mas seus pés...

... Seus pés sangravam

A unha do seu calejado pé partira no meio e agora manchava de sangue todo o carpete
Desliza
Desliza
Espirra sangue por onde anda
A dor (por que não tem como não falar dela) era a dor da perda de um filho
Alastrava-se pelo corpo como um vírus,
Causando calafrios de morte
Desliza
Desliza
Segue a bailarina com seu linguajar profético
Sangra
Sangra
Dentro de suas possibilidades, ainda sorri

Um Clown de Shakespeare
Um palhaço triste
Um poeta despoeta
Uma inventora de palavras sem sentido
Um angustiante detentor do destino de bilhões de pequenos corpúsculos
Baila pelas paredes,
Baila pelas paredes, organiza sua vida,
Dá sentido à hora que lhe é bem-vinda
Enxuga a lágrima que lhe consome a face
Mostra os dentes e gira mais rápido para esconder o medo
Ela ama o que faz
Mas sangra
“Sangue de amor”, pensa ela
Um amor amargo, com gostinho de pêssego

Sangra, bailarina, sangra
Segue à morte, bailarina, é a tua sorte
Desce e goza da agonia que é teu cerne
Bailarina, triste e alva como a neve