terça-feira, 25 de setembro de 2012

Ao corpo


Seio teu que mama a boca minha
Boca minha que mama o beijo teu
Beijo meu que mama o seio tua
Mama tua que mama o mama meu

Vista-te com o despudor das noites frias
antes que amanheça.
Despudora-te, nua e latejante,
como só a carne lateja.
Anoiteça pelas esquinas, insípida
com o vício de outrora.
E fria enfraqueça, diante
da ânsia minha que por ti vigora

Ouso achar que possuo a posse
Que desconstruo a torre que te ergue
E que tenho a chave daquilo que em ti dorme

Mas só a hipótese já me é tardia
Pois tal chave pertence à mais que todos
Pertence à noite, somente à noite, todo dia!

sábado, 22 de setembro de 2012

Um reflexo



Reflexos de mim mesmo chamam
o deus da síndrome
da falta de
mim.
Eu,
Gabriel,
arcanjo mesmo,
daqueles fracos que dão pena,

tenho medo de olhar debaixo da cama
e me deparar com reflexos
de mim mesmo.
...
A menor
instância que me rege
parece rir dos meus mais simplórios pesadelos.

E os reflexos de mim mesmo nada
fazem, pois parecem
inertes ao meu
torpor,
que é,
antes de tudo,
um reflexo da minha falta de sentido.

Um reflexo nada sente,
                  nada faz,
                  nada goza,

O reflexo só tortura
e com uma irônica autorização minha.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Queda-livre



Milhões de corpúsculos copulam à meia-lua
Flutuam tão leve que nem se percebe
Nos olhos do leigo nada se parece
Ou quem sabe a existência nem se perpetua

Milhões de corpúsculos copulam à meia-lua
E é por isso que confunde-se noite e dia
Numa busca irracional pela ínfima alegria
Esquartejam sadicamente a carne nua

Milhões de corpúsculos copulam à meia-lua
Tortura maior que essa há de surgir
Para aquele que outrora fez emergir
O gozo que agora não se perpetua

Mas a vingança ainda que se efetua!
Mesmo que doa mais do que a tortura
Vai nascer aquilo que falta para a cura
Numa troca de palavras, da mole pra dura

E antes que o medo volte a evanescer
Milhões de corpúsculos à meia-lua copularão
Se ainda assim não acontecer
Atiro-me de um penhasco e acabo com a minha solidão!

(Como fazem milhões de corpúsculos, todos os dias)