sábado, 28 de janeiro de 2012

Anjo do Inferno



Durante toda a minha minúscula vida tentei ser tud
o. Controlar tudo. Me enquadrar em tudo. Respeita
r a vontade de todos e me sobressair perante qualqu
er argumento, desrespeitando os outros. Hoje penso
que só um anjo do inferno pode ser tudo.  Deter par
a si os direitos do bem e do mal. Tocar fogo no espí
rito santo e ainda assim se sair bento.
Mas
Esse tipo de anjo eu jamais irei ser. Pois só um anjo
do inferno pode se tornar um anjo do inferno.
E eu...
Quem sou eu?
Apenas um moço querendo chamar atenção, com me
do de chamar atenção demais. Fraco demais. Indecis
o demais. Apaixonado demais. Hipócrita demais. Cri
ança demais. Descrente de anjos do inferno.
Poderá haver um sentido para tudo isso?
...
Ontem sonhei com um anjo do inferno...
E ele era feliz

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Eu sou dor
Embora me queira vivo
Surge outrora o vermelho-errante
Que me levará, perante o seu suspiro
À quebra surda do amargo instante

Que dentro da mortalha esquenta
A virgem perto dos quarenta
Por dentro, se faz sedenta
Por fora, eu já nem sei
“Eu já te amei”

Hoje, nada mais me faz falta
E vai acabar como começou
Antes que se perceba o ócio
Regurgitando no próprio fluxo
Refluxo

Verso-sonho

Sonho
Verso que se forma cru
Deixa teus espaços penetrarem minha veia
Antes que seja tarde

Verso
Sonho que se vive como mancha
Preenche de lacunas os fantasmas que me cercam
Antes que eu sucumba

Antes que eu...

Ganhe vida

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Poesinha

Certa vez amei Dalvinha
Como um menino, fiz-me seu
Mas não me amando Dalvinha
Fiz-me morto para todo o sempre
Casei com a mãe-natureza vigente
Amei-a até onde deu


O tempo passou ligeiro
E amargou-se minha alminha
De tudo tornei-me avesso
Segui o mundo amargo
Cinzentei tudo ao meu lado
Nunca mais pensei em Dalvinha

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Vida Longa ao Rei da Necrópole


Rei da necrópole
Arcabouço de minhas memórias tristes
Faz sangrar meus dedos encolhidos de vergonha
E alimenta o fogo que me congela lentamente

Que vai me matar incontáveis vezes
Que irá seqüestrar os meus filhos
Rindo, amarelo, enquanto abusa de minha esposa
Enquanto abusa de minhas filhas

E quando nada mais me doer
Quando até a dor me tornar amiga
Ele, imponente e cruel, irá embora
Sem rir
Sem chutar-me a face
Ou esfregar na minha cara o quanto eu sou inferior

Rei, que só ele
Vai deixar de existir
E vai me botar no mundo
Vagabundo, moribundo
Bêbado e esquecido
Por toda a eternidade

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Nada por enquanto



No inferno, onde ainda é quente
Lançar-me-ei de peito aberto
À noite, que se faz vinda!
            (Espero-te num futuro incerto)

Antes a morte que a afasia
Quero a dor da feiúra inata
Excitando a flor doentia!
            (Meretriz da terra do nada)

E traga-me o gozo vil
Dos filhos de João-ninguém
Armando a arapuca frouxa
           
---Não sobreviverá ninguém!---

Pulo, de choro e ódio
De medo, grito e lamúria
Liberdade, ainda que tardia
À morte, mãe da angústia!
            (No inferno, onde ainda é quente)
             
    Não sobreviverá ninguém.