sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Ode às sombras N°2

Qual o som que a morte faz?
Qual o som que a vida faz?
Ainda espero a sua voz
E o seu exército, feito de medo
Algoz da esperança

Tornas-te a razão de tudo isso
O tabu que me excita
O fantasma que me acalenta
O tremor embaraçoso no canto da boca
O espaço que nos preenche

[Mas o meu maior medo é vê-lo, com os seus iguais, num descampado à lua cheia, vindo me buscar]

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Ode às sombras N°1



E se espalham...
Feito centenas de milhares de ondas sonoras
E como se fossem Deus...
Falecem

O espaço vazio governa os constructos do paradoxo
Sem deixar sinal de sobreviventes
Psiu! Não contas o fato que desconheces
Sequer a verdade evanesce

“Se me queres, por entre meu ventre precisa descer
Beijar a minha face, comer da minha comida
E obedecer, até que me desfaça
Ainda assim não me reconheçarás

[Tenha-me como amiga
Vista-me com a tua vaidade
Estupra-me de vida e morte
Desgasta-te com o teu torpor]

E ainda assim não saberás
Pois o mistério é insolúvel ao teu olho
Pois até o fim me esfregarei
E até o fim me obedecerás

E antes do fim saberás
Melhor do que qualquer outro
Que só para você eu nasci
E que sou o seu melhor reflexo

Ovo".



  

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Causa Mortis


À carta não lançada,
ao gozo reprimido,
ao grito amordaçado,
à espera concedida,
à lâmina mal-amolada,
ao beijo nunca visto,
ao amor nunca selado,
à morte nunca assistida,
à sorte sempre tardia,
ao desfecho mais que suspeito.

À isto,
a tudo isto,
e a inúmeras outras coisas
[talvez mais numerosas e mais importantes que estas]
dedico o mais inútil dos prêmios solenes que aqui ofereço antes da minha morte.
Pois elas me guiaram e me desguiaram
Tornaram-me e destornaram-me
Fazendo de mim tudo aquilo que jamais poderia ser
Cérebro
Cerebelo
Asco
Uma pilha de revistas em quadrinho
Tempo
Muito tempo
E saudade