terça-feira, 26 de março de 2013

Das recorrências da Morte




(I)

Aqui me venho ao ato
Pálido, um escandinavo, mosaico do infinito
Esgueiro-me, afirmado na muleta da reminiscência
Sendo vós, por mais mal amada que possa ser a minha imago
Tu és eu, por pior que deva ser a tormenta do esquecimento
Sois ingratos

(II)

Padeço no avesso ao descontentamento,
Assim como meu tempo nunca existiu
Ergo-me falante, falange espectral ao vento,
Que por ventura perdura em teu onírico

Adormeço, advinda a vitória conquistada
Em prol daquilo que faleceu em ti
Mas meu vício governa e governará
Acima de qualquer força deste universo ou além dele

Sou o âmago do gênesis, pilar da metáfora e da metonímia
Sou a espera perante os sete juízes da galáxia
E tua postura egoísta depende única e exclusivamente da minha

Sou o menino errado que um dia se fez ateu
Sou o medo do réquiem amargo e ignorante ao teu chilique
Sou a mãe das mães, a Morte que hoje te leva e que outrora te concebeu

(III)

Lamento
Amém.

sexta-feira, 22 de março de 2013

Título?

















                                                       Quis escrever a mais perfeita poesia,
                                                       Mas quem diria...
                                                       Engasguei.



















sexta-feira, 15 de março de 2013

Pornografia Japonesa


Quero permissão para pedir a benção à nova geração
A geração consumista de poemas,
Que compra versões descartáveis de Drummond e Abreu
Kafka, Goethe e Nietzsche para estressados
Que consome pornografia japonesa,
Aninhados na autodefesa do suposto eterno sorrir
Buscando o que acham ser verídico
A geração das drogas inenarráveis
Que de tão narráveis que são
Não revelam nada
Será?
Quero pedir a benção a tudo que é de bolso
Pequeno, pocket, diminuto
Informação dentro de carteiras de cigarro
Cercada de hipsters requebrantes na linha do infinito
Seguidores de uma desordem análoga a ordem
(Que me remete a não sei o que lá de um cardíaco)
Quero compartilhar a minha agonia com o mundo
Para que o cheiro seja sentido no horizonte
Longe, perto do nem sei se há
Onde a esperança ainda existe
E que o cheiro possa avisar que aqui ninguém vive mais
Pois somos abençoados pela nova geração
Cristãos pagãos escravos do minimalismo
Amaldiçoados a expressar a dor na menor sentença possível
Dói.

quinta-feira, 14 de março de 2013

Abraço


            O abraço que me acolhe
Dor, em qualquer estado de espírito
Transita em minha glândula pineal
E numa transa pequenina
Perpassa minhas entranhas frias gentilmente
Forçando-me ao acalanto da noite mórbida
            Pena que esse abraço
Pai de todo o metamorfo metafórico
Desdiz o seu próprio verbo
Estraçalha os sóbrios num êxtase exotérico
Mostrando o cinza exposto ao Louvre
            Ninguém ousa roubar a coisa
(só em pensamento)
Visto que é ela quem te abraça
Mas ousemos da forma que Ícaro almejou
Pois o que determina o sentido da andança
É o inverso subversivo ao normal

O absurdo está no erotismo das coisas irreais



quinta-feira, 7 de março de 2013

Whatsapp



Oi. Não consigo dormir. Deitei de bruços, observando a figura patética do travesseiro puído. Não fazia sentido pensar em tudo aquilo que eu te falei de tarde, logo naquela hora da noite, logo em um estado de sono que dentro de poucos minutos me levaria para a mais desejável paz ou para a mais excruciante agonia. Então porque essa inconstância, essa volúpia de medo e insegurança que me doma as rédeas por volta das uma e meia da madrugada? Meu desespero não me obedece, assim como toda a suplicante humanidade, que chora para esse deus calado uma resposta, ou quem sabe só um bisturi e uma precisão cirúrgica. Um avanço na medicina, a descoberta do século, detentora da solução para toda a complexidade do universo... Quanta babaquice. Ninguém vive o suficiente para ver esperança na vida. A porra do túnel te alcança estando feliz ou triste, e o seu estado de espírito não vai fazer diferença pro senhor e senhora minhocas na hora do lanche. (...) Bom, e daí? Não sei. Alguns não se preocupam com isso, o que eu acredito ser uma coisa e tanta. Mais uma vez, e daí? Será que o mundo se resume a essa pequena expressão simples e mal amada? Talvez. Talvez eu não esteja nem mesmo vivo. Talvez o verbo nem exista. Talvez estejamos na Matrix, sendo consumidos até a última gota por uma metáfora razoavelmente bem elaborada do estilo de vida que acredito fazer parte de um conglomerado de insetos insignificantes para o universo. Ou talvez eu só esteja errado, irremediavelmente errado, e qualquer uma das minhas ideias nada são além de lixo. Prefiro pensar que só estou com sono. A humanidade não vai durar muito, assim como essa madrugada ou a bateria do meu celular. Boa noite.