quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Beth sem Sapatilha



Beth é uma bailarina
Observe-a rodopiar por entre seus giros
Cada revolução uma encenação, cada passo uma obra de arte
Sua leveza é meta humana
Seu corpo exala delicadeza
Desliza de lá para cá, e de cá para acolá, pendulando pelo aposento escuro como um vagalume reluzente
Era uma estrela, Possuía brilho próprio
Sua respiração era quase inaudível, mesmo no ambiente opaco e sem brilho algum. Sua dança era sonora. Seu olhar, música
Sua alma vencia o silêncio
Mas seus pés...

... Seus pés sangravam

A unha do seu calejado pé partira no meio e agora manchava de sangue todo o carpete
Desliza
Desliza
Espirra sangue por onde anda
A dor (por que não tem como não falar dela) era a dor da perda de um filho
Alastrava-se pelo corpo como um vírus,
Causando calafrios de morte
Desliza
Desliza
Segue a bailarina com seu linguajar profético
Sangra
Sangra
Dentro de suas possibilidades, ainda sorri

Um Clown de Shakespeare
Um palhaço triste
Um poeta despoeta
Uma inventora de palavras sem sentido
Um angustiante detentor do destino de bilhões de pequenos corpúsculos
Baila pelas paredes,
Baila pelas paredes, organiza sua vida,
Dá sentido à hora que lhe é bem-vinda
Enxuga a lágrima que lhe consome a face
Mostra os dentes e gira mais rápido para esconder o medo
Ela ama o que faz
Mas sangra
“Sangue de amor”, pensa ela
Um amor amargo, com gostinho de pêssego

Sangra, bailarina, sangra
Segue à morte, bailarina, é a tua sorte
Desce e goza da agonia que é teu cerne
Bailarina, triste e alva como a neve

Nenhum comentário:

Postar um comentário