terça-feira, 30 de agosto de 2011

Rascunho do diário de um psicopata enclausurado




Ninguém foi ao velório do Bicho Papão.

O fato, triste como foi, não chamou a atenção de nenhum de seus contemporâneos.

Ninguém ficou sabendo.
Ou fingiu não saber...
...Por que,

Drácula está morto;
Frankenstein apodrece num asilo;
Oz numa clínica psiquiátrica
e Norman Bates bateu as botas.

Lorotas, lorotas, lorotas...

Ninguém foi ao velório do bicho papão.
Ninguém se lembra do bicho papão.
Nem do velho do saco.
Nem da perna cabeluda.

Mas isso não poderá ser triste, ora pois!
Ele era um crápula!
Foi-se sua hora, caro maldito!
Descanse sem paz, onde quer que esteja!

Ignoro o teu velório!
Ausento-me de lhe permitir meu luto!
Estragavas a minha beleza!
Vivias como um animal!

Cantemos nós!
Bebemos para esquecer a vida!
Daquele escarro dia após dia
Do sangue que nos desce a goela
Do medo que nos solta a bexiga
Da melancolia que só é a vida

A vida...

Que vida?

Bebemos para esquecer que não existe amor.

...


Ninguém foi ao velório do Bicho Papão.

Que dias tristes são esses que nós vivemos.

Um comentário:

  1. Todos estão muito ocupados pra ir ao velório do Bicho Papão e, se duvidar, ele deve estar em um divã agora falando das suas frustrações com um demônio qualquer, provavelmente, bebendo uma dose ou outra, meio entristecido e de cabeça baixa, pobre diabo, tem crise de identidade, perdeu-se por aqui e por ali, vive cambaleando, pobre demônio, era um mal tão belo se comparado aos novos males de hoje... Que péssimos dias, que péssimas horas, que péssima morte. Que morte? Morremos para esquecer que não existe vida.

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