O amargo errante delgado com suas botas
Enquanto o sol se punha, colorindo sua porta
Os planetas giravam e a música não parava
Enquanto sua mãe de todos se afastava
Durantes as noites ela dizia: viva seu destino
Para o pequeno, enquanto dormia, o pobrezinho
Sonhando um dia poder ser como Marlon Brando
Mas num dragão, com menos máfia e contrabando
Compunha nas folgas canções para surdos
Sua mãe lhe castigava, achando um absurdo
Devia ser como um Deus, bondoso e cruel
Governando um planeta, igual sua prima Isabel
“Ou então um mutante”, era o sonho da velha
Uma vaca de duas cabeças sedenta na relva
Entretanto, tossia e vomitava o tapete
A doença atacava, como a fome e a sede
“É a peste”, diz o médico, de jaleco e arrogância
“Precisa da pedra de bosta da Tailândia
Se dentro de dois dias não à fizer ingerir
O sangue jorrará, e ela deixará de existir!”
O errante não sabia, nem podia algo fazer
Era muito pequeno, e de tanto medo ter
Sentia que seus esforços seriam em vão
Enquanto sua mãe sufocava na solidão
Subiu ao seu quarto, no vigésimo andar
Juntou a mobília, formando um altar
Enquanto em lágrimas puxava sua genitora
Gritou como um porco a fala ensurdecedora:
“Enquanto aqui esteve, seu servo para tudo fui
Cortei-me a jugular, suguei para dentro o pus
E agora me vejo ao réquiem, derrubado em lágrimas
Mas de alegria, vá para o inferno, e que o diabo lhe parta!”
Seu ódio fez uma sombra, que consumiu todo o resto
Sua mãe foi levada para os confins do inferno
Enquanto gargalhava. Agora era livre!
E apreciava seu mais novo truque, uma sombra bem fixe
Despejou o medo ao redor do mundo
Aos poucos foi ficando amargo e moribundo
Casou-se com uma moça, medrosa e submissa
Que apanhava de chicote enquanto o errante ria
Num instante, algo muito estranho aconteceu
Sentiu que nada que vivia era realmente seu
Um vórtice no céu sugou tudo à sua volta
Até mesmo o sol, que iluminava a sua porta
Acordaste do sonho, suado e arfando
Não havia nenhuma sombra matando ou lhe esperando
Nem pedras ou médicos chatos dando ordens
Apenas um vácuo para todos aqueles que dormem
Vivia no fim do mundo, onde o sol se deita
Ali ninguém interage, ou algum sonho almeja
Avalie amar, sonhar ou agir diferente
Todos seguiam o rumo da vida corrente!
Respirou fundo e sentiu seu destino
Vivia preso ali desde que era um menino
Devia perecer, sem sentir fome nem sono
Apenas sonhar que sentia, no mais completo abandono
Enquanto pensava, tristemente o sol se punha
Os planetas giravam conforme a música
O drama do menino era um eco distante
De um aglomerado de células num universo gigante
Triste era a sina do amargo errante!
Edgar Gabriel Poe.
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