"O cérebro é o parasita ou o pensionista do organismo inteiro" (Schopenhauer)
A consciência humana tornou-se tão perfeita, tão lúcida e aprimorada, prática, científica e proativa que ficou perceptível para toda a comunidade global que o cérebro, afinal, enquadrava-se na posição de parasita, e que todo o conhecimento alcançado, desde o início dos tempos até o derradeiro momento, fora o conhecimento que o tal parasita permitiu ao homem conhecer, assim como sonhos, lapsos, progresso e destruição, equilibravam-se numa gama de espaço minúsculo, cedido pelo governante, para melhor hospedá-lo.
A consciência humana tornou-se tão perfeita, tão lúcida e aprimorada, prática, científica e proativa que ficou perceptível para toda a comunidade global que o cérebro, afinal, enquadrava-se na posição de parasita, e que todo o conhecimento alcançado, desde o início dos tempos até o derradeiro momento, fora o conhecimento que o tal parasita permitiu ao homem conhecer, assim como sonhos, lapsos, progresso e destruição, equilibravam-se numa gama de espaço minúsculo, cedido pelo governante, para melhor hospedá-lo.
Não tardou para que em aulas de
anatomia, antropologia, arqueologia, ufologia, filosofia e diversas outras
egoicas “ias” trocassem o tão tradicional esquema fisiológico do ex-órgão e
partissem para um arcabouço maquiavélico de tentáculos, brocas, ventosas,
dentes, cérebros dentro de cérebros, e uma infinidade de instrumentos e partes
de instrumentos inerentes ao parasita que eram utilizados para melhor adentrar
no ser humano e usufruir de todos os seus fluidos corporais. Alguns
especialistas mais extremados palpitaram que talvez o envelhecimento advenha
exatamente desse vampirismo.
Desde então, nunca mais se houve
sossego na face da Terra. Como concordar com todo o desenrolar da episteme
humana se fora tudo elaborado por tamanha abominação? O homem era doente desde
que se lembrava e não sabia uma forma de curar-se. O consumo de drogas de todos
os tipos tornou-se abusivo por uma quantidade cada vez maior de pessoas, assim
como os suicídios ocorrendo à rodo. Seitas surgiram, umas demonizando, outras endeusando
o cérebro. Algumas o colocavam em um pedestal, fedendo e às moscas, como o
próprio Cristo na cruz, outras o consumiam, como faziam os antropofágicos em
outra época, ou ainda outras, que as queimavam nas missas e nos cultos, em
templos cheios de quadros com imagens de cérebros dentados. Os livros sagrados
foram alterados, assim como as canções. Toda a arte se tornou cérebrocentrista.
Só se conseguia pensar nisso, e na ideia de como não se existia pensar.
Um novo fim do mundo foi traçado.
Uma data foi marcada, cinco anos depois do fim do mundo previsto por alguma
civilização extinta à milênios atrás, por um grupo cada vez mais crescente de
ufologistas que acreditavam que os cérebros eram, afinal, alienígenas vindo à
Terra para parasitar algumas formas de vida e quando a fonte secasse, partiriam
para o próximo planeta, na sua nave escondida no núcleo. Dessa vez foi um surto
coletivo. Nenhum humano globalizado confiava no seu pensamento. No dia marcado,
os mortos, que se acumulavam nas ruas, foram escalpelados e tiveram os cérebros
retirados, onde foram empilhados numa montanha de massa cinzenta da altura de
um prédio de quatro andares, que foi queimada, formando uma gigantesca
fogueira. Na hora marcada, todos se suicidaram, com um tiro ou uma punhalada na
cabeça, exatamente onde a dor iria cessar. Os locais mais pensantes, os centros
do conhecimento, agora se tornaram um cemitério intelectual, onde nenhuma
intelectualidade poderia mais ser vista.
Apenas as últimas tribos, ainda sem
contato com o homem globalizado, sobreviveram. Não tomaram consciência de tal
apocalipse, muito menos do advento desse deus absolutista. Permaneceram cultuando
a chuva, o sol e as estrelas.
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