sábado, 9 de junho de 2012

O banquete das aranhas


Tão cedo começou a marcha fúnebre veio o tradicional banquete das aranhas. Grandes, pequenas, velhas, novas, solteiras e até as religiosas, tristes e galanteadoras, todas se reuniram na cripta do destino, onde preparavam uma noite onde o pecado da gula e, principalmente, o desejo do pecado, se fazia farto. A matriarca tratava de organizar os detalhes da grande noite. As convidadas, de se alojar nos seus respectivos lugares o mais rápido possível. Estavam todas extremamente ansiosas. Enquanto observavam aquele corpo indefinido e gosmento de sangue e nojeiras que se situava bem no meio da convenção. Era delicioso de morrer. Todas babavam, esfregavam as patas cabeludas e eriçavam os pelos mínimos. Aos poucos, os últimos lugares iam sendo preenchidos. A tensão comandava o ambiente. O som de mandíbulas e movimentos ia cessando  a medida que esperavam pela decisão da matriarca. Tal se posicionava junto ao alimento, dez vezes o seu tamanho. Quando fizesse o primeiro movimento e despejasse o líquido digestório real em cima do aglomerado, todas teriam o direito de partir para cima. Ah, e deus sabia como elas partiriam com o gosto dos gostos, com a sede de mil anos, a fome da última refeição. O movimento foi feito. As aranhas pularam. Por imitação, os movimentos ganhavam ritmo. Patas e suco digestório de dezenas, quase centenas de aranhas se misturavam numa dança para a saciação, e ao mesmo tempo, para a morte. A coisa se desmanchava. As aranhas jogavam os montes já digeridos para dentro. Mais para dentro. Mais comida. Mais Adentro. Chiavam, mexiam, se lambuzavam. Os milhares de olhos se reviravam. Os corpos se retorciam com prazer. As aranhas se esfregavam para tomar espaço. Se esgueiravam entre uma e outra, em cima, embaixo, formando um bolo que não se diferenciava. Patas acabavam se mutilando inevitavelmente pela pressão e serviam igualmente de alimento. Estavam famintas demais para parar. Excitadas demais para parar... Devoraram-se até a última aranha. A cripta ficou em silêncio. Os vermes trataram de cuidar dos restos mortais.

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