Por funcionar à base de
lábios
Dispõe de um leque
inigualável de agrados
Os lábios
Por funcionarem à base
de poemas
Derretem-se à cada voz
que o amor amamenta
Mas lábios estes
Amando mais a arte da
conquista
Fazem do desencontro um
dos seus maiores deleites
E da realidade um poeta
saudosista
E o apaixonado
Que na vida só leva a
poesia
Desmorona na embriaguez
do jogo da amada
Escrevendo mais e mais
à cada víscera
Pois o poeta também
funciona à tristeza
E ao perceber nesse
algoz brutal beleza
Entrega-se de cabeça ao
lamento amargo
Refaz todo o seu
trágico atestado
Enterra-se abraçado com
a amada em um retrato
Desejando jamais ter
cometido tal proeza
Mas enquanto prepara o
veneno
Na esquina vê passando
um lábio desconhecido
E antes que possa ver-se
desfalecendo
Torna a viciar-se
naquilo que lhe causou o destino
Pois o lábio pro poeta
não é mais que um símbolo
Irmão da tristeza, da
caneta e do vinho
Que, no fim, servirá
como livro de cabeceira
De enfeite no bureau de
um burguês mesquinho!
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