quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Duas prostitutas


            
       Duas prostitutas fogosas (e loucas para descolar aquela grana que renderia uma boa picada) caminhavam por uma avenida mal iluminada na calada da madrugada, seguindo um homem que também caminhava e que encontrava-se quase no fim de onde a vista alcançava. Seria o alvo ideal, pensava uma. Andando a essa hora na rua, não deve estar procurando uma igreja, pensava a outra. Vai ser uma foda daquelas, pensavam as duas. Com sorte, convenceremos o carinha a nos comer ao mesmo tempo. Orgia a gente pode cobrar o quádruplo do preço, claro. E aí, quando a recompensa viesse... Arrepiavam-se só de pensar.
            Quilômetros foram percorridos, ruas nunca antes vistas surgiam e o tal homem não parecia nem um centímetro sequer mais perto. Era estranho, porque como estava tão longe não dava para ver suas pernas se mexendo. Com o olhar devido, parecia que estava parado, no mesmo canto de quando foi visto pela primeira vez.
            Mas não desistiriam, ora bolas! Já tinham andado tanto para trepar com o sujeito que não ousariam parar. Talvez cobrassem mais ainda pelo transtorno pelo qual estavam passando. Ah, mas vai ter que compensar cada passo, pensava uma. Se ele nos rejeitar vai ser apedrejado, pensava a outra. Mesmo distante, a mais nova, mal saída da adolescência, sentia a boca salivar, pensando na sujeira que fariam.
            A noite foi trocada pelo dia, e as ruas se encheram de pessoas matutinas, correndo para os seus trabalhos. Alguns homens olhavam as moças com desejo animalesco, mesmo não sendo lá tão atraentes. Outros chegavam a assobiar, até mesmo a parar e chamar para conversar em um lugar mais discreto. Não, obrigado. Depois de tudo, aquele cara vai ter que pagar. Para o bem ou para o mal, terá a transa mais escrota da vida dele. Mas nem um avanço sequer. O homem encaixava-se no horizonte como um retrato impressionista, estático e perfeito, sem virar-se em momento algum.
            Outro dia se passou, assim como outro, seguido de outro. O fogo que ardia entre as pernas, ao invés de diminuir, só aumentava. Cidades foram cruzadas, assim como milhares de pessoas e de olhares. A fome e a sede batiam imperdoáveis. Dia após dia, noite após noite, o mesmo argumento. Fomos longe demais para voltar atrás.
            Num determinado momento, uma delas – a mais nova – caiu de exaustão. A outra, por imitação, fez o mesmo. Chorando de raiva e de dor, com os estômagos rasgados pelo suco gástrico e com as vestes imundas de urina e fezes, contorciam-se no chão. O corpo pedia a heroína alucinadamente, assim como todas as outras necessidades fundamentais. Era impossível continuar.
            Enquanto o choro corria solto, a mais velha olhou o horizonte – como quem implora o último pedido – e viu algo diferente. O homem agora não só parecia se mexer, como sua silhueta aumentava aos poucos. Estava se aproximando! Não havia como dizer se tinha felicidade nesse acontecimento, porque a dor era tão grande que parecia bloquear qualquer sensação – exceto o fogo. O homem chegou mais perto, perto o bastante para passar a parecer uma mulher. Na verdade, parecia um homem e uma mulher ao mesmo tempo. Suas vestes eram de uma cor nunca antes vista, assim como o seu rosto, iluminado pelo sol do meio-dia, não conseguia parecer com nada. Não só era algo novo. Realmente era nada. Ao chegar onde elas estavam, disse: estou preparado. Vocês estão? As duas, no último suspiro, conseguiram esboçar um brilho de felicidade. O homem deitou por cima das duas.
            De frente para o penhasco que delimitava o fim do mundo, os três fizeram a orgia das orgias, escrita num linguajar inexistente, inexprimível por qualquer expressão humana. Rolaram para o abismo e permaneceram abraçados, os três, caindo em direção ao nada, em um orgasmo infinito.

Um comentário:

  1. Era deus, era o cão no purgatório, era a provação final, era... Judiação com os sentido da gente c_c

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