Era uma coisa luminosa
branco-celestial de uma pureza difícil de descrever em palavras. Uma imensidão
sem fim recoberta por uma completude alva, emanada de uma torre, poste divino
de beleza sem igual, jorrando no que quer que seja uma onda de energia quase corpórea.
A coisa preenchia, recobria cada aresta, ranhura, rachadura, indefinição, imperfeição,
declive. Escorava-se no mundo como uma mãe que abraça o filho.
Entretanto, algo
coçava.
Havia alguma coisa que
não era branca no meio de tamanha claridade. Alguma coisa não emanava pureza,
muito menos parecia ser feita da mesma matéria que tudo aquilo.
Mas não estava.
Tudo ali estava, mas
isto não estava. O poste, figura inerte e perfeita, nada podia fazer, já que já
fazia tudo. Aquela obra-de-arte era ignorante ao seu esqueleto. A torre era
oca, e dentro uma coisa espremia-se. Pulsava, apertada e sem espaço, como o pus
de uma espinha. Coça. Coça. Queria estar fora e sentir pelas suas partes o calor
reconfortante da luz corpórea, mas como uma criança presa em um buraco, não
conseguiria sair sozinha. Contorcia-se, mas o espaço não lhe dava brecha alguma
para movimentar-se. Não havia forma de sair. Como uma pintura, o seu lugar era
aquele, preso dentro de algo que não poderia jamais entender, apenas ansiando um dia estar fora, sentir aquilo
que lhe era apenas uma esperança de o que quer que seja.
Continuaria pulsando.
Vai que uma hora o esforço seria recompensado. Num universo paralelo, ou numa
outra arte surrealista, a coisa bem que poderia inflar e explodir toda a torre,
que tombaria junto com toda a sua magnitude e sua luminosidade cessaria,
preenchendo o infinito de trevas e escuridão. Com a luz apagada, uma entidade
liberta, emanante de luz própria, encandearia um brilho forte, mas único e
focado. Um brilho com o intuito único de brilhar para si, satisfazer-se e ser a
única coisa brilhante naquilo que nunca teria fim. O centro de toda a
existência.
Mas não neste universo.
Neste a coisa continua a pulsar, numa estrutura tão resistente que nada a
libertará, mas ela não sabe. Não havia tempo nisso tudo. Nem dia, nem noite.
Nada nunca aconteceu de
verdade.
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