sábado, 22 de outubro de 2011

Mr. Hall

                
            Entrei no ônibus às oito e meia da noite e antes mesmo de fazê-lo já sabia que aquilo tudo seria a minha morte.
            - Entre, seu velho filho da mãe! – disse o motorista. Chamava-se Mr. Hall e era cego de um olho. Perdeu a visão de um enquanto comia três de suas putas. Ninguém além dele e das três putas sabe o que aconteceu de fato, apenas que o coroa foi proibido de dirigir um automóvel há mais ou menos dois anos – Como andam as coisas? Arranjou um emprego? Parece feliz, não parece, crianças?
            - Sim, Mr. Hall! – um coro de crianças, todas igualmente sorridentes e vestidas e sentadas no fundo do veículo disseram em uma só voz.
            - Aconchegue-se, rapaz! Pegue uma bebida! Pegue uma garota! Estamos todos aqui para ir rumo ao céu, não é, rapazes?
            - Sim, Mr. Hall!
            - Não se preocupe, meu amigo – disse eu - Estou muito confortável aqui. Só estou passando por alguns problemas que logo vão sumir.
            - Que história é essa de problemas? Vejo tanta alegria na sua cara! E olha que tenho apenas um dos olhos! – disse Mr. Hall, gargalhando de si mesmo. Ajoelhada ao lado dele, uma moça, provavelmente uma de suas putas, lhe pagava um boquete.
            Enquanto observava tudo aquilo, uma mulher de cabelos vermelhos chegou-se lentamente a mim e me abraçou sensualmente.
            - Você não me ama mais? – foi o que ela disse – por que não me ama mais? Você disse que sempre me amaria, não foi, Mr. Hall?
            - Não sei. Foi, crianças?
            - Sim, Mr. Hall!
            - Sinto muito, moça, mas não me lembro de você – foi o que eu disse – mas se quiser que eu a ame, terei todo o prazer de o fazer.
            - Eu não quero nada de você, só que me ame! – disse ela – por que não ama? Havia prometido tantas vezes, mas tantas!
            A velocidade aumentava.
            Um pedaço de carne desliza no centro do veículo.
            - Se me permitir te amar, assim o farei.
            - Por que, pode me dizer? Amar, algo tão simples... Nem isso o faz!
            - Está cagando o pau, meu amigo! – disse Mr. Hall – se tivesse feito o seu papel de homem desde o início! Faltou tão pouco para que pudesse faturar esse pedaço de pecado! E agora, veja bem, meu amigo, irá perder a chance de ter um último prazer nessa sua medíocre vida! Há! Não é tudo uma bosta?
            - Como assim, ultima chance?
            - “Como assim, ultima chance?” – fez ele me imitando, dando um tom débil mental a minha voz – “Por que? Por que?” Ah, faz o favor, meu amigo!
            - ME AMA, PORRA! – gritava a moça a plenos pulmões – ME AMA, PORRA!
            A velocidade aumentava.
            O bolo de carne era uma orgia.
            O grito da moça remexia minha espinha.
            - Estamos todos à beira do inferno, não é, crianças?
            - Sim, Mr. Hall!
            - Será uma queda e tanto, não é, crianças?!
            - SIM, MR. HALL!!!
            - E tudo isso culpa do nosso amigo passageiro, não é, crianças?!
            - OH MEU DEUS, SIM, MR. HALL!!!
            - E RESPONDAM, PELO AMOR DE SEUS PAIS, ESTAMOS OU NÃO ESTAMOS FELIZES POR ISSO, CRIANÇAS???!
            - SIM! SIM! MINHA NOSSA, SIM, MR. HALL!!!
            - POIS APROVEITEM, MEUS AMORES, CHEGOU O MOMENTO MAIS IMPORTANTE DA VIDA DE VOCÊS E SERÁ RÁPIDO COMO UMA PICADA DE ABELHA!!!
            O ônibus escapou da pista e caiu abismo abaixo.
            Explodiu.
            Fim.

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